A iniciação de clown se reduz, em suma, à experiência de morte e renascimento. Desformar um corpo para dar vida a outro, o corpo clownesco. Uma experiência paradoxal, sobrenatural, de morte e ressurreição, o segundo nascimento. Esse prelúdio equivale ao amadurecimento espiritual e, em toda a história religiosa da humanidade, reencontramos sempre este tema: o iniciado, aquele que conheceu os mistérios, é aquele que sabe.
Na iniciação de clown, o mesmo acontece: durante aquele período em que o aprendiz está dentro do processo, pode tornar-se o outro quem não sabemos quem é, mas que o processo em si estimula essa crença de uma nova existência. Ele transforma os valores da existência.
O processo iniciático equivale a uma mutação ontológica do regime existencial. No final das provas, o neófito goza uma outra existência após a iniciação: ele é de novo um outro. A iniciação introduz o neófito na comunidade humana e no mundo de valores espirituais. Nos estágios arcaicos da cultura, a iniciação desempenha um papel capital na formação religiosa do homem e, sobretudo, consiste numa mudança de regime ontológico do neófito.
Texto: Ana Wuo
Imagem: Summer Clown Course - Ecole Philippe Gaulier